Se Óbidos é um dos expoentes das reconstituições de época, Santa Maria
da Feira tornou-se a «capital» deste fenómeno agora tão na moda.
Quando
o calor aperta nas ruas de Santa Maria da Feira, as mulheres vão buscar
os vestidos compridos e os homens as armaduras. É tempo de desembainhar
as espadas. Não é uma declaração de guerra ao Verão, mas a Castela.
Tudo se passa ao longo do maior evento regional do mês de Agosto. Este
ano, durante 11 dias consecutivos - de 31 de Julho a 10 de Agosto
-, voltam os corpetes, a malha de ferro e as sandálias de couro que
palmilham cada canto da zona histórica, onde há sempre qualquer coisa a
acontecer. O castelo da Feira é um dos pontos nevrálgicos da trama, mas a
área de acção estende-se por 40 hectares. E não são só os números que
impressionam: o realismo da viagem histórica consegue reavivar o século
XIII, em pleno reinado de D. Sancho II.
Aos treze anos, D. Sancho II torna-se rei de um reino desgovernado. São necessários acordos, findar conflitos. Nada se resolve de forma simples, as pressões surgem de toda a parte, conflitos de interesses, guerras diplomáticas. O casamento do rei é contestado, o reino é uma anarquia, o irmão Afonso e o papa não são aliados. Rei deposto, sem governo, atraiçoado, D. Sancho parte para Toledo onde morre nos inícios de 1248.
Tudo o resto é História. Uma História
que pode ver-se contada pelas ruas da cidade. Para fazer parte dela
basta vestir o trajo a rigor (que pode ser comprado durante o evento) e dançar nos arraiais das ordens militares. O leitor poderá também sentir as
dificuldades dos guerreiros e participar na subida ao castelo ou nos
treinos dos escudeiros. Mas na «tomada d'Elvas» só participam os que
superam o casting, uma espécie de testes à destreza e ao talento para
representar dos guerreiros em part-time. Os ensaios para o grande momento
começam quase um mês antes da viagem medieval.
Como nem só de
esforço vive a feira, os banquetes também fazem parte da Idade Média. Da
ementa constam as carnes de caça e, até, pratos árabes, no Restaurante
da Mouraria.
No Lago dos Feitiços todos são livres de pedirem um
desejo, e a avaliar pelos mais de 50 mil visitantes diários), há um
pedido recorrente: voltar à feira para o ano que vem.
adaptado de "Um país a viajar no tempo", Revista Visão nº855