Houve um tempo em que dava tudo para não andar de transportes públicos. O carro era mais rápido, mais simples, mais eficaz, o gasóleo custava metade do preço actual (e eu tenho carta há menos de 10 anos), o meu pai tratava da parte da manutenção do carro e os horários que fazia eram sempre fora das horas de ponta (oh, vida de universitária, que saudades). Nessa altura nem sequer tinha que fazer a viagem todos os dias e, quando fazia, o percurso não demorava mais de 30 minutos.
Quando comecei a trabalhar a minha visão sobre o
assunto começou a mudar. Fiz diariamente e durante mais de três
anos cerca de 120km/dia. É verdade que na maior parte do tempo o
carro era partilhado e não tinha que ser eu a conduzir mas...
cansei-me do carro. Juntemos-lhe as portagens nas ex-SCUT, o gasóleo
cada vez mais caros e a manutenção do carro começar a sair do meu
bolso e a minha aversão cresceu.
Sempre disse que assim que arranjasse trabalho no
Porto experimentava voltar aos transportes públicos. Um mês depois, a
experiência vai bem e recomenda-se. E nem vou falar das vantagens
ecológicas ou financeiras, vou falar do fator “tempo para não
pensar em grande coisa”. :) Tempo para ler, para ver blogues, para
espreitar facebook e companhia, para observar as pessoas ou... só
para fechar os olhos e deixar-me dormitar. Tempo para conhecer as
pessoas com as mesmas rotinas que eu e para encontrar amigos no
metro. Tempo para me divertir com as personagens que aparecem como a
senhora que está apta a participar neste concurso
ou o parvo do puto que conta ao amigo que os pais não o entendem e
não lhe pagam casa no Porto como ele “precisa” (e que admite que
nos primeiros dois anos viveu no Porto e só fez 3 cadeiras).
Talvez não ganhe tempo mas ganho momentos. Demoro cerca de uma hora a chegar cá,
se viesse de carro precisava de, no máximo meia hora. Isto claro, em
condições ideais (leia-se sem trânsito a entrar ou a sair). Por
outro lado, esse tempo desperdiçado (e desesperante,
em caso de problemas transito). Só estou dependente dos meus
horários, encontro muitas vezes companhia e estou à disposição de
boleias de última hora “não queres vir embora comigo hoje? Vou
para os teus lados!”, ah pois claro que vou!
E sim, isto não é um perfeito mar de rosas, óbvio. Nem tudo
funciona sempre como devia. Na segunda-feira passada avariou um comboio na
linha e parece que ninguém se lembrou de avisar as centenas de
pessoas sobre o que se estava a passar. A informação sobre o
horário previsto dos comboios atrasados sofria incrementos de 5
minutos a cada... 5 minutos. E isto demorou horas. Estimativas
realistas, avisos nos painéis eletrónicos, via audio da estação e no site da CP são
medidas relativamente simples. E ainda nem sequer tive que enfrentar dias de greve... Depois há ainda os problemas regulares: os comboios não têm a
distribuição de horários ideal, as pessoas não sabem andar de
autocarro (a sério gente, a porta não foge, ficarem 5 paragens
encostados à porta só atrapalha todos os que têm que sair), as
filas ainda são pouco respeitadas e há muita gente que vai “a
namorar” aos pares nas escadas rolantes. Mesmo assim, as melhorias
são mais do que evidentes se comparar com o meu primeiro de
faculdade (e há muito mais gente a usar transporter públicos.
Próximo objectivo em dias bonitos: largar o autocarro (faço neste momento carro - comboio - metro autocarro) e passar a fazer 15 minutos de caminhada até à estação de metro.
Não podia concordar mais. Houve uma altura em que trabalhava no coração de Lisboa, e usar o carro não era opção. Muito dormitei eu nos autocarros, gozei com as personagens que apanhava no caminho, reconhecia as pessoas e inventava as histórias de vida deles. Felizmente foi uma fase de menos problemas com a CP (que cada vez funciona pior, parece-me), e só apanhei um dia mais complicado em que fiz-me à estrada e demorei uns 40 minutos a pé até à estação de comboio, mas adorei respirar o ar da cidade!
ResponderEliminarHoje em dia apanho dias de trânsito muito complicados, horas intermináveis de cansaço. Ainda hoje prefiro os transportes públicos, então se envolverem uma pequena caminhada, melhor. Agora como não posso trazer ténis para o trabalho é que já não considero a ideia, andar a mudar de sapatos ao longo do dia não me agrada nada...
A CP funciona mt mal, mas o Metro parece-me funcionar bastante bem até (1 mês ainda é pouco para avaliar, mas parece...) Todos os dias há alguém que chega cá a queixar-se do transito, demoram quase tanto ou mais tempo a chegar cá do que eu e não podem fazer nada enquanto estão parados!
EliminarO calçado... é efectivamente um problema. Eu ando SEMPRE de sabrinas/sapatilhas/botas rasas. Hj decidi vir de saltos, para me habituar (até pq os sapatos que escolho para o casamento têm salto). Mal cheguei... já me estava a amaldiçoar! :)
Eu dizia-te! :) Não há nada melhor por todos esses motivos e, pelo menos para mim, para me poupar do stress do trânsito, do stress de estacionar o carro, do stress de tentar horas que fujam da hora de ponta. Eu ainda acho que há uma desvantagem, andar com a casa atrás custa nas costas, enquanto que no carro podes levar tudo e mais alguma coisa. Mas depois de 4 anos de transportes públicos, na generalidade das vezes, não trocava.
ResponderEliminarSim, mas eu nem preciso de andar com "muita" coisa (mas o meu pouca, é muito para muita gente). Chateia-me haver alguma falta de respeito para com os utentes (principalmente da parte da entidade CP) e chateia-me algumas pessoas (mas é uma minoria). Para já estou mesmo bem.
EliminarGostei :) Sim , acho que o descanso é bem diferente se andares de transportes públicos *
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