terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Não quero criar uma máquina


Enquanto estava grávida pensei algumas vezes sobre o que seria suposto fazer para ser uma boa mãe. O Duarte nasceu e eu fui ganhando confiança e certezas. Acho, pelo menos na maior parte das vezes, que sou a melhor mãe do mundo para ele. A Mãe dele.

O meu problema actual é outro. Enquanto ele é pequenino, parece-me fácil mas... será que serei capaz de o ensinar a ser feliz e o tornar numa pessoa boa. Não há carapaças, e se há um mundo lá fora que tem tantas coisas boas e vale mesmo a pena ser explorado é também verdade que esse mundo é tão GRANDE! Como se aprende (e ensina?) a gerir a enorme quantidade de informação e de mundo que nos chega diariamente?

A informação. Será que algum dia saberei ensinar alguém a lidar com toda aquela informação que nos chega? Começamos logo pelas fontes. A grande parte dos jornais está longe de ser a fonte fidedigna e imparcial de informação, estão cada vez mais comerciais. A internet está cheia de pseudo-estudos cheios de pontas soltas e sem conclusões que provam tudo e mais alguma coisa. A propagação da informação nem sempre é a mais correcta, os blogues não deixam de ser pessoais. 

Há teorias para todos os gostos e feitios e, arrisco, muito pouco bom senso. Há muitas pessoas a achar que só há um caminho correcto. A questão das escolas faz-me muita confusão. Estamos a criar uma geração que passa horas infinitas fechada nas escolas, entre actividades criadas porque os pais que não os podem ir buscar mais cedo, aulas de substituição, dezenas de trabalhos de casa. Parece-me um caminho tão infeliz.

Não sei bem como se ensina a gostar da escola, a gostar de estudar, a saber tomar opções e viver num mundo tão confuso. Não sei como se ensina a ser feliz. Sei que os meus pais foram aconselhados a adiar um ano a minha entrada na escola "porque a professora era muito pouco rígida e quase nunca marcava trabalhos de casa". Sabiamente ignoraram o conselho e eu adorei a escola e a professora. Sei que era muito bom sair às 15h30, e ter muito tempo pela frente. Sei que a escola é muito mais que aprender matemática e português e que é fora das quatro paredes que se aprender a Ser Pessoa. Sei que nunca me senti enjaulada, que apesar de todos os pseudo-problemas de uma criança/adolescente, sempre fui feliz. Odeio o conceito de aulas de substituição sem nexo e quilos de trabalho de casa "para aprender mais".
  
Dizia-me um amigo há uns tempos que nós deveríamos ir viver para outro país, porque "na nossa área, lá fora, seriamos ricos". Não, não é isso que eu quero, tenho a certeza. Adorava ter vivido lá fora uns tempos pela experiência. Deixou de ser um plano depois do Duarte nasceu.  A sociedade está a afastar-nos cada vez mais da comunidade em que sempre vivemos. Sei que há muitas pessoas que não têm alternativa, mas eu tenho. Eu tenho o privilégio de poder deixar o meu filho com os avós, de  saber que esteve a ver a avó a tratar das galinhas e que pede uma tangerina sempre que passa pela árvore. Saber que se sujou, que se deitou no chão e que fez aquela vizinhança um bocadinho mais feliz. Sei que quero mesmo encontrar, quando chegar a hora, uma pré-escola onde ele passe o dia a brincar. Adoro pensar que um dia poderei dar-lhes a opção de sair mais cedo da escola porque há um avô por perto para o ir buscar, para brincar muito. Penso no meu horário para poder entrar mais cedo e sair enquanto há luz para poder estar com ele. 

Não sei bem qual é o caminho, como se ensina tudo isto. Como explicar que até podemos não concordar com as regras mas temos que as seguir, podemos é lutar para muda-las. Que há muitos caminhos certos e outros tantos errados e é preciso escolher, saber ver as boas pessoas, ler as entre-linhas. Não sei bem qual é o caminho, mas penso várias vezes nisto.





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