quinta-feira, 3 de setembro de 2020

A propósito de famílias

Numa altura em que me vejo cada vez mais rodeada por "famílias nucleares", longe de tudo e de todos, penso e repenso a sorte que tenho. Nasci numa família grande. Lá em casa éramos 4 mas ainda hoje tenho que pensar para saber quantos primos tenho ao todo (e não é porque só fale com eles no Natal). Tenho mesmo muitas memórias de mesas cheias e barulhos bons. É provável que os meus filhos não percam a conta aos primos, mas eles têm os avós e os tios por perto e, ainda melhor, têm o privilégio de ter uma "aldeia" a olhar por eles. 


Eu gosto do conceito de bairro, com todas as coisas que isso tem de bom. Gosto de conhecer a vizinha do lado, gosto de receber os pimentos que lhe sobram da colheita, gosto que os meus filhos sejam crianças "do lugar", gosto de me esquecer de qualquer coisa no café e a senhora saber que é meu. Gosto de ir à aldeia onde os meus pais cresceram e que até a senhora que está a pastar ovelhas (e que eu achava que não me conhecia) pergunta pela minha sobrinha. E outra que não deixa "o senhor dos doces" ir embora, porque sabia que eu estava por lá e queria saber se eu queria comprar doces "porque eu gosto". Gosto tanto desta familiaridade que não ligo muito aos pequenos problemas (como o excesso de "zelo" pela vida alheia ou o excesso de doces que o meu filho acaba por receber). Gosto que o meu filho saiba que tem "um quarto" na casa dos avós, dos tios e que comece a perceber que todos nós fazemos parte da educação dele - e que há regras diferentes nas várias casas. Gosto de todo o caos e toda a partilha dos almoços grandes. Gosto de sentir que vou acompanhar o crescimento dos meus sobrinhos bem de perto, que vou ter espaço deles na minha casa, e quero acreditar que eles vão perguntar por nós da mesma forma e na mesma frequência que o Duarte pergunta pelos tios. 

Depois há toda a sanidade dos momento sem filhos. Ter onde os deixar se quiser ter um bocadinho só para mim ou para nós. Deixar a porta aberta para ficarmos com os filhos "dos nossos". Ter lugares onde eles querem sempre ficar. Deixar que só entrem na escola aos 3 anos (e não, não concordo que seja minimamente importante para o crescimento deles ir mais cedo). E tanto mais.

É um privilégio. O privilégio que é crescer com os avós por perto. O privilégio que é quase não ter mesa suficiente para tanta gente. O privilégio que é poder fazer como me parece fazer mais sentido. O privilégio de nunca estar sozinho. 



segunda-feira, 13 de julho de 2020

Sinto que aquelas semanas do confinamento não foram apenas um monte de coisas más. Em jeito de disclaimer... Claro que não acredito na ideia (estúpida) de mensagens do Universo para que abrandemos e tenho consciência que este sentimento existe por... sorte. A verdade é que a quarentena chegou comigo de licença, por isso nunca passei pela fase "dois adultos a trabalhar e 2 crianças a chorar". Consegui, de algum forma, "partilhar" o confinamento com a minha família mais chegada e, no final das contas o mais importante: ninguém, até ao momento, ficou doente, perdeu emprego ou teve algum problema evidente como consequência direta disto tudo.

Adiante, dizia eu que vejo coisas boas. Não só o básico: passamos muitos dias fechados em casa, não nos chateamos (hum, houve um dia em que me passei moderadamente, mas acho que ficar fechada e a ver números e a ler artigos e notícias assustadoras não confere saúde mental a ninguém), não me senti mais stressada ou zangada com os miúdos (fora a depressão de ter ficado sem umas férias que aposto que iam ser espetaculares) e na verdade fizemos coisas mesmo muito porreiras. 

A minha preocupação inicial para "tornar isto tudo o mais normal possível" acabou por nos transmitir a todos uma normalidade boa que eu só confirmo agora, ao ver as fotografias daquelas semanas. Construímos um frasco com boas ideias para fazer em casa, jogamos mais jogos de tabuleiro do que nos últimos 3 anos, pintamos, cozinhamos muito, construimos uma horta na varanda, melhoramos divisões, compramos e lemos muitos livros (infantis), convertemos-nos a fraldas e guardanapos de pano, encomendamos de pequenos produtores, preparamos festas super exclusivas, construimos uma macaca no corredor (e ainda jogamos quando lá passamos), fizemos uma verdadeira praia em casa num dia de chuva, almoços na varanda e muitos piqueniques na sala. Nunca me senti sem ideias, o Duarte percebeu que o lugar dele não estava ameaçado pelo irmão bebé e nós percebemos que não queremos morar a vida toda numa casa sem jardim. Grandes planos e bons. Investigamos mais sobre sustentabilidade,  percebi que não tenho saudades de restaurantes (onde íamos muitas vezes), e poupamos mais.

Esta lista pode ainda ter mais pontos, mas hoje é disto que me lembro. Percebi que quero voltar a escrever por aqui porque me faz bem e porque gosto de me reler. Os dias a 4 fechados em casa já lá vão, e esta nova vida de teletrabalho tem sido cheia de descobertas boas. Mas isso... fica para outra história. 

quinta-feira, 18 de junho de 2020

Os meus filhos nasceram assim

(Encontrei este texto nos rascunhos. Na altura foi escrito para partilhar e depois passou-me. Mostrei-o a uma amiga que me disse "partilha, é bom ler histórias boas". Aqui fica a minha história boa.)


Se me perguntassem há 2 meses se o parto do Duarte tinha sido bom eu responderia que sim, sem duvida. Entrei em trabalho de parto algures durante a tarde. Até aí não tinha tido qualquer sinal de contração ritmada ou outro sinal que o parto estaria para acontecer. As contrações nem sequer eram fortes ou dolorosas (e sendo eu na altura inexperiente na coisa nem sequer as identifiquei logo como contrações!). O “desconforto” foi-se tornando mais frequente ao longo da tarde e por volta das 20h estava com contrações a cada 5 minutos (mais coisa, menos coisa que não estava muito atenta à contagem). Estava sozinha e pedi para a minha irmã vir ter comigo. Uma hora depois a bolsa rebentou e com contrações bastante frequentes há algum tempo (que não passavam em repouso) e uma bolsa rebentada... comecei a sentir que talvez fosse hora de ir (e mesmo que não sentisse... a minha irmã ter-me-ia arrastado para lá!). No entanto o Tó estava em aulas e eu achava que não valia a pena grandes pressas. Arranjei-me e fomos para o hospital. Nestas andanças... dei entrada no hospital já a passar das 22h30. Continuava plenamente convencida que o bebé ainda iria demorar umas horas a nascer mas entretanto tinha avisado o rapaz que íamos para o hospital. Quando fui observada já tinha alguma dilatação (uns 4cm, se bem me lembro) e o CTG acusava as contrações frequentes, que começavam a ser dolorosas. Algum tempo depois o bebé começou a acusar algum sofrimento e fui logo para a sala de parto. A dilatação já tinha aumentado e o parto estava quase a acontecer. Pedi nesta fase epidural (tinha inicialmente recusado) e com a epidural deixei de sentir qualquer dor mas também de ter um papel activo. Chamaram o pai para entrar nesta fase. O Duarte demorou uns 5 minutos a nascer, com direito a episiotomia grande, ajuda da ventosa, a enfermeira deitada em cima de mim e a médica a dar indicações que eu não conseguia cumprir. Eram 23h55 quando ele nasceu. Não me apercebi que tinha sido utilizada a ventosa e... pior, não me apercebi que o bebé tinha nascido. Apercebi-me que ele nasceu porque repentinamente deixei de ter “atenção” da equipa ao meu redura . Não o ouvi logo chorar e não o via mas estavam todos a dizer-me que estava “tudo bem”. Lembro-me de sentir pânico/desespero/medo durante breves segundos que pareceram horas. Ele chorou. Embrulharam-no e entregaram-no ao pai. Vi finalmente o meu bebé, vi que estava bem, que tinha corrido tudo bem. Não me apaixonei por ele ali. Disseram que o tinham que levar novamente. Foi sozinho para outra sala com as enfermeiras para ser vestido, pesado, sei lá. Nasceu o meu bebé, 50cm, 3,050Kgs, um APGAR de 9/10, e a minha cabeça só me dizia “ok, missão cumprida!” Demorei a ficar “pronta”, entre a expulsão da placenta e os séculos que estive a ser cosida. Não tenho a certeza mas tenho ideia que algures nesta fase trouxeram o bebé vestido e voltaram a levá-lo para a sala “de vestir”. Passou mais de uma hora. Só quando eu estava preparada para passar para o recobro é que nos trouxeram o Duarte. Nesta fase a auxiliar insistia que eu comesse primeiro e que só depois o iria buscar. Lembro-me de pedir para o trazerem, de insistir mesmo, Ele veio mas foi entregue ao pai “porque eu tinha que me alimentar”. Lá comi qualquer coisa, lá desapareceu a senhora é ficamos os 3 sozinhos na sala de recobro. Ele mamou só nesta sala. Só nesta altura, depois de toda a confusão passar é que senti que uma pequena explosão de emoção e me apaixonei pelo meu bebé e pela família que estávamos a formar.

Cerca de uma hora depois vieram levar-me para o quarto. Eram 2h30 e o hospital não permitia que os pais ficassem de noite pelo que fiquei sozinha com o Duarte. Esta separação custou muito (mesmo muito). Eu fiquei dorida numa cama de hospital com um bebé para cuidar, com um boost gigante de hormonas e com toda a vontade de partilhar toda aquela confusão de sentimentos. Passei a noite acordada com o bebé no colo e lembro-me de alguém passar e reclamar que não deveria estar com ele no colo e tanto tempo na mama. O pai só pode voltar às 11h do dia seguinte (só podiam estar das 11h às 20h). Não me podia ajudar durante a noite, não podia ver o banho, não podia vestir, não podia dar colo, excepto naquele intervalo de 9h. O pai era sempre tratado como um visita especial e não como o outro elemento da família em falta. Eu esperava sempre que o Tó chegasse para ir à casa de banho ou tomar banho. Lembro-me de evitar comer e beber para não deixar o bebé sozinho durante a noite. Lembro-me que come exceção na ronda da manhã, ninguém perguntava se precisava de ajuda.   Estivemos 3 noites no hospital, as equipas eram pouco simpáticas, havia muito pouco apoio às mães, mas eu não tinha termo de comparação e  senti que até correu tudo bem. Na verdade o importante tinha acontecido: eu estava bem, o Duarte estava bem, e também ninguém tinha sido propriamente antipático.

Com o Miguel a chegar procurei um hospital público que permitisse o pai passar a noite o que para nós na altura do Duarte tinha sido a grande questão. O hospital mais perto com esse requisito era o Pedro Hispano, em Matosinhos. Marquei uma visita, gostei do que ouvi. O hospital envolvia o pai, humanizava o parto e era um hospital amigo do bebé. Ok, hospital escolhido.

Tal como o irmão, o Miguel não estava a dar grandes sinais que estaria para nascer. Já me diziam que tinha dilatação há mais de um mês, já tinha saído o rolhão há semanas e nada do rapaz se decidir. Já eu andava a desesperar (e com a data da indução a chegar - o que poderia dar outro post...) e a tentar todos os truques e dicas para tentar que o rapaz quisesse conhecer o mundo. No dia em que ele nasceu disseram-me ao almoço que “não devia estar para já porque a barriga ainda parecia muito subida”. Pois... nessa tarde comecei com contrações regulares. Deitei-me para ver se passavam. Não passaram. Continuaram e estavam a ficar bem frequentes. Tinha um jantar combinado num sítio que eu adoro, jantei entre as contrações (e aquela calzone ganhou um lugar ainda mais especial no meu coração e estômago 😂) e quase com a minha mãe a querer pegar-me por uma orelha e levar-me ao hospital. Saímos do restaurante por volta das 21:30. Chegamos a Matosinhos e o enfermeiro da triagem da urgência obstetrícia perguntou-me se eu, enquanto mãe de segunda viagem, achava que estava mesmo em trabalho de parto. Sim, acho mesmo que sim! CTG, contrações muito frequentes, bolsa rebenta enquanto lá estou deitada. Uns minutos depois sou observada pelo GO de serviço. 7cm de dilatação, mas o bebé ainda um bocadinho subido. O enfermeiro pergunta se quero anestesia. Duvido. “Segundo filho e 7cm de dilatação, eu gostava de esperar mas não tem propriamente o tempo a seu favor”. Explico que queria alguma analgesia mas não quero passar a ser espectadora do parto, como no parto do Du. Ele tranquilizou-me “queremos todos que a Vera tenha um papel activo”. Ok, sim por favor! Passamos (agora já com o Tó) para uma das salas de partos (o hospital tem 6 salas individuais). Levei a anestesia (e o Tó teve um pequeno piripaque a ver a agulha). Chegou a enfermeira parteira mais querida da história (ok, e a única que conheço a sério porque o parto do Duarte foi conduzido por uma médica). “Como se sente”? Com vontade de fazer força mas o médico disse que o bebé ainda estava subido! “Sim, mas isso foi quando ele viu, agora ele na está mesmo aqui!”. (Algures neste processo apercebo-me que alguém faz sinal à enfermeira porque a monitorização apresentava algum sofrimento fetal). “Vamos fazer força!”. E eu bem que fiz, que tentei, que toquei na cabeça do bebé (tudo conduzido pela enfermeira) e não conseguia fazer o rapaz nascer. Às tantas a enfermeira pediu desculpa, tinha mesmo que fazer um ligeiro corte para nos ajudar e porque o bebé precisava de nascer. E o Miguel nasceu,  às 23h04 (já disse que às 21h20 ainda estava a tomar um café e a comer um brigadeiro?) e veio logo para cima de mim, deitado, ligado a mim, chorou ali e eu apaixonei-me perdidamente por aquele bebé grande, gordinho, por aquele milagre de vida. Cortei o cordão umbilical, ficou ali muito tempo comigo. A placenta saiu, fui cosida com ele ali comigo e pareceu tudo muito rápido. Pesaram-no e mediram-no  mesmo ali ao meu lado. 53cm, 37,5 de perímetro cefálico, 4,080kgs de bebé. Apgar 9/10. “Que grande! Parabéns!”. A enfermeira foi sempre tão querida e eu mal me lembro do que me disse, só da sensação incrível que foi. Voltaram a colocá-lo comigo, ele mamou. Deixaram-me comida e bebida “para quando me apetecesse”. Ficamos os três sozinhos. Foi mesmo incrível. Não havia pressas, ninguém ia embora, o Duarte não estava ali mas estava bem. Estávamos óptimos e eu sentia-me uma super mulher.

Umas horas (?) depois vieram buscar-me. Fui para o quarto. Havia um lanche para mim na cabeceira e eu tinha muita fome. Aliás, lembro-me de ter sempre muito fome e de não perceber como é que no do Duarte não sentia nada disto. O Miguel era um bebé grande e pediriam-me para garantir que comia em intervalos regulares e curtos porque ainda teria mais possibilidade de fazer hipoglicemias. O Miguel não estava muito de acordo, sonolento e mal se apercebendo que tinha nascido era muito difícil de acordar. Mas estava ali o pai, para o acordar, para o despir, para lhe trocar a fralda sempre que foi preciso. Estava ali o pai para me ajudar a levantar ou em tudo o que eu precisei, para o por a arrotar, para ver se estava a pegar bem na mama. Estava a partilhar o papel comigo, como dever e direito de pai. Ficamos novamente três noite, o apoio no internamento foi incrível. Boa disposição, simpatia, cuidado. O Serviço (entre enfermeiros, auxiliares, médicos e vários estagiários que por lá passaram) passa uma sensação felicidade e calma que nos permitiu perpetuar esse nosso estado de espírito.

Agora à distância percebo que o primeiro parto não foi bom, foi apenas rápido. Teve uma episiotomia enorme provavelmente desnecessária, delegou o meu papel, impediu o apoio do pai e da comunidade, não foi considerada nenhuma escolha minha, não houve empatia, só protocolo e processo. O segundo parto foi exatamente aquilo que eu queria. Calmo, acompanhado, com um papel activo. Eu participei naquele pequeno milagre e foi a melhor sensação do mundo. A paixão por este filho veio muito mais rapidamente (talvez pelo parto, talvez por ser um segundo filho, talvez por tudo), o internamento foi incrível, a recuperação foi muito rápida.

Não sei haverá um próximo parto, gostava que houvesse e gostava que fosse, no mínimo, igual a este segundo. Se poder ser ainda mais incrível, melhor. :) 

sábado, 23 de novembro de 2019

Oscilações

Olá, sou a Vera, estou grávida de 39 semanas e experimento 30 estados de espírito diferentes por dia.

Abri este rascunho para escrever sobre a minha mistura de sentimento nos últimos dias antes do Miguel nascer e apercebi-me que o último post que escrevi neste blogue, há 4 meses, era sobre exactamente a mesma temática. Pelo menos mantenho a coerência. 

Os últimos meses foram intensos. 

Em Setembro um vírus arruinou o meu sistema imunitário e seguiram-se uma catrefada de pequenos problemas que me deitaram a baixo. No final de Setembro estava fartinha de estar grávida. Entretanto já não conseguia continuar a trabalhar e precisei de parar o que, juntando às (muitas) pequenas maleitas, contribuiu zero para o meu bem estar mental. "Como assim vou estar tantos meses afastada desta minha rotina de trabalho? E o que estarei a adiar? E se as coisas correrem mal? E onde estará o meu lugar quando voltar? E????"   

Depois... fomos até São Miguel, numa viagem marcada muito tempo antes e da qual eu considerei muitas vezes desistir pelo cansaço (e dores) que sentia. Mas os Açores fizeram por mim o que os medicamentos não conseguiram fazer (ok, em parte ajudaram), e voltaram a trazer-me calma, boa disposição e paz com a minha barriga a crescer. 

Voltei, inscrevi-me no pilates pré-parto, nas aulas de preparação para o parto e comecei a organizar as coisas para o bebé e para a festa de anos do Duarte. Pelo meio ia descansando o que precisava. Fui-me afastando progressivamente do escritório e concentrado noutras coisas e noutras pessoas. Brinquei muito mais, organizei algumas coisas cá em casa, fiz bolos para oferecer só porque sim,  festejei o Halloween e permiti-me descansar e desfrutar deste bebé. 

Novembro chegou e, ao contrário da maior parte das grávidas de final de tempo que eu conheço eu estava a gostar tanto que só queria continuar grávida. Quando, há precisamente 2 semanas percebi que o rolhão mucoso tinha saído (o que é sinal que haverá um trabalho de parto muito provável nos próximos dias) fiquei genuinamente triste. Ainda queria este bebé só para mim mais um bocadinho, ainda não tinha desfrutado tudo o que queria desta barriga. "Como assim já"? 

Aproveitei estas duas semanas, organizei tudo o que ainda queria organizar. Tirei fotografias, preparei um calendário do advento para fazer com o Duarte, cortei o cabelo pequenino, fiz pão, organizei as últimas coisas para o bebé, adiantei algumas compras de Natal e decoramos a casa de vermelho e luz. Falta-me muito pouca coisa do que achava ser importante na lista de coisas que queria fazer antes do bebé nascer. 

Estou oficialmente à espera que ele nasça. Já sem medos mas sem pressas. Acho que já não tenho dúvidas. "Podes vir quando quiseres, já fui onde tinha de ir". Sinto que já não falta muito, mas posso esperar os dias que forem necessários desta exclusividade nossa tão boa. 

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Bipolaridade

Bipolaridade
Cheguei às 24 semanas de gravidez e há um misto de sensações gigante. A segunda gravidez é sem sombra de dúvidas mais cansativa que a primeira, sei que preciso parar de trabalhar entretanto para me preparar para o turbilhão que aí virá mas não sei bem como me sinto com esta perspectiva de parar nas próximas semanas. Não tenho a menor dúvida que a minha família é mais importante que o meu trabalho, mas também sei o quanto gosto da minha rotina. Sei perfeitamente o caos que se torna nos primeiros meses de vida do bebé e percebo que com outra criança em casa, manter a sanidade ainda deve ser mais caótico. 

Sei que preciso de descansar o corpo e não me faltam ideias sobre o que fazer no tempo de espera do bebé. Quero descansar, fazer caminhadas pequenas, arranjar espaço para as coisas do bebé, preparar o espaço dele. Quero ter tempo para dar atenção ao Duarte nas últimas semanas de filho único, fazer pão, arranjar as plantas e os armários. Quero voltar a ser uma pessoa com paciência para ouvir parvoíces de outras pessoas. Mas... também quero acompanhar os projectos em que me tanto me envolvi nos últimos meses, (tentar) garantir que corre tudo bem e que pouca coisa falhará. Passo os meus dias entre as sensações de "estou a morrer, preciso mesmo parar" e o "não, não vou parar, na verdade nem quero parar de todo".  Estou com um humor bipolar e oscilo entre ideias durante vários momentos do dia.
Entretanto "passamos" a barreira das 24 semanas, a marca da "viabilidade". A contagem parece cada vez mais perto do "fim" e o nervoso miudinho bom aumenta (ou o pânico, conforme a hora, lá está...). Há um bebé a caminho e isso é bom, assustador e cansativo.

quinta-feira, 27 de junho de 2019

Coisa de uma segunda gravidez

Às vezes arrependo-me de não ter escrito mais textos durante a gravidez do Duarte. Aliás, arrependo-me de não escrever no geral, mas isso são outros trinta. 

A minha memória diz-me que na gravidez do Duarte me senti sempre muito bem. Não me arrastava, não me custava subir escadas e facilmente saltava com 38 semanas de gravidez. Mas já passaram 4 anos desde "esse tempo" e já nem sei se seria mesmo SEMPRE assim. Lembro-me de ter azia, dormir meia sentada e isso não me parecia ser um problema. Lembro-me de ter dores na perna esquerda porque o rapaz insistia em fazer pressão num nervo qualquer estranho. Lembro-me que mesmo assim me senti bem mas também me lembro de descansar sempre que precisava. 

Agora... agora é tudo um bocadinho diferente. Todos os dias chegamos a casa e há uma rotina a cumprir. É preciso brincar, tomar banho, dar jantar, contar histórias e fazer companhia até adormecer. Depois há quase sempre um intruso pequenino na nossa cama a meio de noite. Não me deito cedo, não alapo no sofá, não tomo banhos grandes e relaxados. Os segundos filhos são forçosamente diferentes dos primeiros, por todas as razões e por esta também. É impossível uma gravidez igual. 

Desta vez quero escrever mais. Às 17 semanas eu sinto-me enorme, cansada e pouco ágil. Não me consigo levantar facilmente se estiver deitada de barriga para cima e sem apoios. Decidi voltar ao ginásio (mesmo que em modo slow), o que tem ajudado. Percebi que por agora não vou preparar grande coisa, ainda há muito tempo. Tenho a certeza que tudo se faz e organiza, e se vejo muitas desvantagens na minha forma física nesta segunda gravidez, sinto-me muito mais calma no que está para vir. 

O melhor de tudo: o Duarte tem sido um "irmão mais velho" muito querido. Fala algumas vezes no bebé, e relembra sempre que ele existe. Não podemos dizer "nós os 3" que ele corrige para "nós os 4". Na verdade, acho que ele ainda não tem noção do turbilhão que aí vem, mas por agora ele tem sido uma surpresa muito boa. 

quarta-feira, 10 de abril de 2019

2019

Este blog teve um único post em 2018. Não sei bem o que aconteceu para  ter desistido deste espaço e desta organização de ideias que as palavras me trazem. Em 2018 o meu trabalho ficou mais interessante, o Duarte entrou na escola, a minha avó morreu. Em 2018 corri 10km, estive em dois dos meus casamentos preferidos de sempre, fiz uma roadtrip muito fixe na Irlanda, dei um salto à Holanda e passei 15 dias longe dos meus rapazes (quase) do outro lado do mundo, nas Filipinas. Em 2018 aproximei-me mais dos meus primos, vi coisas novas e tirei os habituais milhares de fotografias.O Duarte começou a falar e com isso encostou definitivamente para canto as minhas preocupações com o desenvolvimento e os timmings do rapaz. Em 2018 trabalhei muito, li pouco e tentei afastar o telemóvel um bocadinho.

2019. Estamos em Abril, um dos meus meses preferidos. Sempre que olho para as fotografias que tiro percebo que Janeiro e Fevereiro são meses moderadamente deprimentes. Quase sem fotografias, sem passeios, sem dias diferentes. É inconsciente, não sei se a ressaca do Natal, se as doenças dos meses frios ou outra qualquer razão que nos faz tele-transportar para Março. Este ano o Carnaval (do qual eu nem sequer gosto) ficou muito mais interessante. Em Março já aproveitamos os dias mais bonitos e este Abril de Inverno promete ser um mês incrível. 

Em Abril, há uma viagem a 2 para o lado de lá do Atlântico, há mini-férias a 3 para matar as saudades, e há um monte de ideias para pôr em prática. Nos últimos meses temos investido mais na nossa casa, e gosto cada vez mais do nosso pequeno caixotezinho (mas também sonho cada vez mais com uma casa com espaço exterior). Este mês há uma cama para pintar, espelhos para pendurar e uma varanda para arranjar. Semeei com o Duarte algumas sementes e vê-las crescer foi uma sensação incrível (se bem que a maior parte teve depois que ser mudada para um pedaço de terra decente porque não sobrevive nos nossos pequenos vasos!). Mesmo assim, tenho a varanda mais gira do prédio. Experimentei fazer levedura e depois pão, com essa levedura e farinhas moídas em mó de pedra e posso garantir que o sabor deste pão é mil vezes melhor que qualquer pão de compra. Tenho tentado simplificar e comprar menos "tralha" mas continuo a perder-me no aliexpress de vez em quando e não tenho remorsos :). Ando com uma vontade de aprender qualquer coisa nova mas tenho o tempo livre planeado até ao limite. Se calhar... devia só parar para não pensar em nada.

Estamos em Abril, o Inverno acabou e eu aposto que 2019 vai ser um ano muito bom. 

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

O primeiro dia de escola.

Querido Duarte, meu amor pequenino, GIGANTE. 

Hoje foi o teu primeiro dia de escola. Pensei muito esta semana se estaríamos efectivamente a fazer o melhor para ti, para todos nós.

Decidimos, quando nasceste, que irias ficar com as avós enquanto nos parecesse que isso era o melhor para ti. Há uns tempos começou-nos a parecer que talvez estivesse a chegar o momento. Precisas claramente de outros meninos e de brincadeiras de grupo. Precisas, parece-nos, de algumas regras que o amor infinito dos avós não deixa aplicar. Continuamos a querer que tenhas todo o mimo do mundo, mas vemos o menino que te tornaste e achamos que precisas mais. 

Hoje chegaste, exploraste o espaço e ignoraste todos os humanos à volta. Viemos trabalhar e deixamos que ficasses com a avó na sala, a avó saiu um bocadinho. Quando voltou, estavas bem. Quando voltou, disseste que querias voltar amanhã. Não sei como será quando passar a novidade. Tenho medo que chores depois. Por agora... vamos devagarinho. 

Perguntaram-me como é que eu tinha ficado. Fiquei de coração pequenino mas sempre a sorrir. Um dia vais perceber como é difícil e igualmente maravilhoso ver um filho crescer. E é ainda mais estranho ver-nos a crescer através dos outros. Mas bom. Mesmo muito bom. 

Amo-te. 
Mãe

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

O Espirito do Natal e o que quero fazer lá por casa.

O Natal para mim foi e é mágico. Tão mágico que não consigo explicar. O Natal é fazer a árvore de Natal, é a preparação das festas, é a casa cheia de gente, a aletria quente, a casa dos meus pais cheia de decorações horrorosamente amorosas, as músicas, as ruas, o cheiro, o ambiente e sim, também são os presentes.

Lembro-me de um Natal em que recebi o Nenuco que tanto pedi. Devia ter uns quatro anos e é uma das minhas memórias mais antigas. É o único Nenuco que tive, foi um presente pedido e sonhado meses a fio. Na altura, sem internet ou excesso de informação, chegou a casa dos meus avós um pai Natal vestido de pijama cor-de-rosa, óculos de sol e uma barba de algodão. Perguntaram-me se o conhecia! Claro que conhecia... Era o Pai Natal!  Deixou presentes para toda a família e uma caixa grande para mim. Lembro-me de andar a entregar apressadamente as caixas a toda a família, até que chegou a minha vez e as fotografias guardam muito bem a minha felicidade. Sei ainda hoje as cores, as roupas e tudo o que veio com aquele boneco. 

Um ou dois anos depois pedi uma bicicleta no Natal. Nessa altura lá em casa só havia uma televisão pequenina a preto e branco, com sintonia manual. Os meus pais queriam comprar uma televisão nova "com comando e a cores", e eu também queria uma televisão. O meu pai disse-me "só podemos comprar uma das coisas, a bicicleta ou a televisão, tens que escolher"!. Recordo-me de perceber que a minha mãe não concordava muito com a imposição do dilema e lembro-me perfeitamente de estar fora daquele contexto a pensar no assunto, afinal... eu queria muito uma bicicleta com rodinhas e queria muito ver bonecos coloridos! No fim... optei pela televisão porque "assim era uma prenda para todos". Devo ter dado a resposta certa, porque nesse Natal, houve televisão nova lá em casa e bicicleta com rodinhas e um cestinho. Não me lembro como foi quando percebi que iria receber a bicicleta...

Depois... chegou a descoberta de que o pai Natal não existe. "Pai, o Sr. José disse que o pai Natal não existe, mas é mentira não é?"... "É verdade. O Pai Natal não existe! É o padrinho que se veste de Pai Natal!". Lembro-me que fiquei triste. Não sei se por ser cedo de mais, se por querer mesmo continuar a acreditar. Mas nunca foi uma tristeza do estilo "sinto-me enganada!" foi só um botãozinho qualquer do "oh, afinal não existe esta figura tão gira!". Desde aí, sempre tentei promover o segredo do Pai Natal e mantê-lo vivo dentro do possível.

Problema... com a evolução do tempo o Pai Natal inevitavelmente acabou por se tornar num monte de presentes. Parece-me ter deixado de ser o senhor querido e mágico para ser o tipo meio assustador, com um fato duvidoso, em quem tropeçamos a cada esquina (literalmente). Mais do que isso, vivemos num absurdo excesso de coisas que nos tira a expectativa e a preciosidade de cada. Adeus Magia... Claramente não é o Natal que tenho tido (e que sobre o qual nunca tinha pensado muito...) que eu quero para o Duarte e nos últimos tempos parei para pensar nesta nossa definição do Natal. Juntei uma série de coisas boas (tradições!?)  que quero ter e manter/criar lá por casa.

Decoração - O Natal começa com a Preparação da Casa. Fazer a árvore e preparar tudo em família. Bónus se houver músicas de Natal e chapéus de rena.

O Advento - Preparar um calendário do advento com tarefas (Fazer biscoitos, ver filmes de Natal, ligar a alguém, ver as decorações de Natal da rua, carta ao Pai Natal, bolachas de gengibre, ir a uma missa...). Este ano ainda não faz sentido a rigidez do calendário, mas para o ano quero adicionar. Gostava de fazer como a Maria e incluir na abertura da tarefa do dia um momento de família: pensar no melhor desse dia, falar dele e só depois abrir a surpresa do advento.

Pai Natal - O senhor de vermelho não é a figura central do Natal nem pode ser. O Natal é a celebração do nascimento de Jesus e, sobretudo, a festa da família. Por isso o Pai Natal vai oferecer UM presente. O presente que vai aparecer na árvore na manhã de 25. Se o Pai Natal aparecer noutras situações vai só estar lá para nos ajudar a distribuir... o senhor parece ter tempo livre e vários sósias. Deixaremos leite e bolinhos para beber quando lá for a casa. :)

Presentes - Eu gosto MUITO de dar e receber presentes. Por isso isto vai continuar. Roupa, Livros, Brinquedos. Sim, na medida em que são bons e precisos. Vou tentar oferecer também experiências, coisas especiais e envolver todos nesses momentos. Não vou embrulhar o que compro para mim. Não faz sentido e só acrescenta caos. Quero envolver todos na escolha do presente certo. O Duarte poderá abrir os presentes que as pessoas lhe dão quando as receber porque, expecto a prenda do Pai Natal, todos serão oferecidos pelas pessoas.

Postais - Enviar postais de Natal. Infelizmente (e com a greve dos correios nos próximos dias). Este Natal não enviarei a maior parte deles por CTT mas quero recuperar isto no próximo ano. E já agora arranjar um local onde comprar postais giros que não custem um balúrdio.

Ajudar - Pela primeira na vida organizei uma campanha solidária.  E se é verdade que não é só no Natal que as instituições precisam de ajuda, não tenho a menor dúvida que é no Natal que aquelas crianças precisam "de mais qualquer coisa". Conseguimos oferecer presentes a 11 meninos, uma mala cheia de alimentos e uma pequena quantia em dinheiro. E tenho a certeza absoluta que fizemos a diferença para aqueles miúdos este Natal.

Histórias - Ler histórias de Natal. Ver e rever filmes de Natal. Criar toda a expectativa do dia. Adaptados à idade. No passado fim de semana vimos episódios do Pocoyo de Natal e decoramos envelopes com carimbos. :)

Mesa Cheia - Estão cá os nossos emigrantes, e se há coisa que eu gosto é de estar numa mesa cheia de gente! :) Com bacalhau, rabanadas douradas ou pão com manteiga :) há tempo para pequenos-almoços, almoços e jantares de Natal, que o que importa é estarmos com todos.

O dia 26 - O dia 24 e o 25 são a loucura. Entre preparativos, visitas de última hora e "estar" com todas as pessoas, estes dias são uma correria boa. Quero começar a tirar o dia 26 de férias, para ficar por casa, descansar do caos e aproveitar os brinquedos. 

E o mais importante... aproveitar cada bocadinho de uma das alturas mais bonitas do ano. 

Feliz Natal! 




 

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Dois anos de ti

Dois anos de ti
Querido Duarte,

Meu pequeno rapazinho! Há dois anos que cá estás. Uau! Dois anos em que te acompanhamos, em que aprendemos a ouvir-nos e a ouvir-te, em que continuamente nos deliciamos.
Estás todos os dias menos bebé, mais rapaz. Tens vontades, ideias e  gostos. O tempo voa, como o cliché dita, mas não há como fugir dele. És sorridente, traquina, feliz. Deliras com animais, com motores e rodas, com botões e coisas eletrónicas, com "a rua" e com bolas! Começas a aprender a lidar com os impulsos e a frustração e o desafio destas lições é para todos nós. Eras um comilão adorável e agora decidiste que não queres sopa e que não gostas de algumas coisas. Estás muito mais desconfiado com a comida mas a fruta continua a ser uma verdadeira paixão.  Deixaste de gostar de piscinas onde não sintas o chão. Bates palmas sempre que estás feliz e danças de uma maneira tonta que derrete toda a gente. Depois de te ambientares és extraordinariamente simpático. Adoras dormir com companhia e acabas sempre a saltar cedinho para a nossa cama.
Não falas. Não falas mas expressas-te lindamente. Mesmo assim, o facto de isto estar "atrasado" deixa-me doida, confesso. Às vezes preciso de parar, olhar para ti, e ouvir o meu instinto dizer-me que estás bem, que estás a aprender coisas novas todos os dias e que daqui a nada desbloqueias a fala. Estou mortinha para poder "reclamar" de tanto que dizes. O pai continua a dizer que estás ótimo.

Este Outubro, fomos passear os três. Andaste de avião e portas-te lindamente. Fizemos uma espécie de road trip e adoraste. És um grande companheiro e foi muito bom termos finalmente as nossas férias merecidas. Prometo que tentaremos repetir todos os anos. Prometo mostrar-te coisas novas e bonitas. Prometo continuar a ser uma mãe ranhosa que luta sempre para te passar um tablet ou um telemóvel para a mão. Aposto que um dia me vais compreender.

Tens tudo de meigo e traquina. Tens um ar de rapazinho muito feliz. És tão querido, tão bonito e tão nosso que paro (paramos) muitas vezes a contemplar-te. Morremos de saudades quando estamos longe e acabamos por falar em ti nessas ausências. Somos uns pais chatos, babados e orgulhosos. Que o tempo voe, seja bem vivido e a nostalgia por todos os momentos bons continue.

Amo-te.
Mãe

Bolo número 4 de aniversário do Duarte.  Sim, é um bolo feio do qual eu muito me orgulho! :)
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