quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Não sou nómada, nasci para ficar.

"O que é que ainda aí estás a fazer?"- perguntou-me o meu pai.
E o meu pai talvez me tenha perguntado isto porque, infelizmente, sabe muito pouco de mim. O "aí" dele referia-se a Portugal e a pergunta vinha no desenvolvimento de uma conversa acerca de carreiras promissoras no estrangeiro, o quanto ela acha que eu me estou a desperdiçar por "aqui" e o Mundo de oportunidades que conhece em todo o lado, nomeadamente, no país para onde ele próprio emigrou há uns bons anos. O meu pai diz-se um cidadão do Mundo: já viveu em Inglaterra, na Nova Zelândia, em Nova Iorque e, agora, mudou-se de armas e bagagens para São Paulo. E acha que este país não me merece, que eu tenho tanto, imenso potencial, que sou boa demais para aqui viver. "Estares aí é dar pérolas a porcos"- diz-me.
Aqui tenho tudo o que preciso para ser feliz: a minha mãe à distância de 2 minutos de casa se precisar de um colo para chorar, a Marginal todos os dias quando regresso do trabalho, o mar como companheiro, o cozido à portuguesa aos domingos na casa da minha tia, a luz de um céu irrepetível (não se trata de calor, é a luz e eu sou uma pessoa muito dada a "foto-depressões"), o crescimento da minha prima, quase adulta, os rituais de sempre nos sítios que sempre me pertenceram, o pastel de nata de manhã no café do Sr. Augusto, os bolos de aniversário da Alves e Alves e os fins de semana de manhã a ir buscar bolos à Sacolinha, quinzenalmente aos domingos o mercado, os gelados do Santini enquanto desço a Rua Direita, um concerto do J. P. Simões à mão de semear, o passeio entre o Guincho e o Cabo da Roca em tardes de telha, o parar para comprar fruta da época não normalizada em vendedores ambulantes na berma da estrada e o pão com chouriço no caminho para a Ericeira.
Talvez peque por, aos olhos do meu pai, ser poucochinha e pouco exigente no que peço da vida. Claro que se passasse necessidades, se a minha qualidade mínima de vida estivesse comprometida, seria obrigada a partir. O que o meu pai não percebe é que eu não procure uma vida "melhor", desconhecendo ele que não aspiro a nada que me pudesse fazer tão mais feliz que compensasse a minha mudança de altitude e latitude.
"Não preciso de ter acesso a mais nada: sou eu que vivo no sítio para o qual tu poupas para vir passar férias. Tu desejas um travesseiro da Piriquita o ano todo, eu não salivo de cada vez que penso em algo que comi numa qualquer viagem que tenha feito. Posso ter memórias boas delas mas não salivo por um cupcake do Magnólia, onde está a minha amiga Eileen, nem sinto saudades que me façam o coração apertado por voltar a Vianden, perto do sítio onde mora a minha amiga Xana. Porque eu não tenho o coração biforcado entre o sítio onde pertenço e o sítio que escolhi. Porque eu escolho permanecer aqui, no sítio onde pertenço."- remato.
"O que é que ainda cá estou a fazer, pai?" Estou a ser feliz com o muito que tu achas pouco.
Não sou nómada, nasci para ficar.
 Polo Norte, no sempre bom Quadripolaridades

Falamos muitas vezes deste assunto. Seria tão fácil emigrar, seria tão simples ganhar muito bem. Chegamos sempre à conclusão que perderiamos mais do que ganhavamos. 

Adorava ter trabalhado num outro país. Por apostar mal, por me deixar ficar ou porque não quis na altura, não aconteceu. Gostava de ter ido um ano. Talvez dois. Por formação e experiência e depois... voltar a casa. Não aconteceu e não acredito que venha a acontecer. Foram as cartas que decidi jogar. 

Sinto-me uma felizarda por isto ser uma opção. Claro que podia ter uma casa maior, podia ter um carro melhor, podia ter uma conta com mais números. Mas isso são coisas, pequeninas. Tenho uma casa, tenho um emprego, gosto de gestão de orçamento. Se fosse não teria muito mais. Perdia o mar ao fundo da rua todos os dias, o amor da família aqui ao lado, mesmo ao lado. Não seria a nossa casa a que tem as portas abertas para todos os amigos, a que pode sempre receber cheia de mimo os que vivem por essa Europa, aquela em que cabe sempre mais um, muito dos quais que cresceram comigo ou me viram crescer. Não saberia onde comprar o melhor pão tigre a meio da noite, não teria peixe do "nosso mar" e o vinho do Porto passaria a ser um luxo. Não ouviria os golos da selecção a serem gritados no café em frente, não me perderia a olhar para o por-do-sol cheio de côr nem poderia ir durante a semana jogar cartas para o café, com os amigos "como antigamente". Não sentiria os cheiros de Santa Catarina, não me arrepiaria com as luzes nos Aliados e ninguém me trataria por menina. 

Não teria todos os dias, todas as horas, a sensação e certeza que estou em casa.

Não interessa quantas vezes voltamos a pensar neste hipoteses. Precisamos sempre de apenas uns segundos para perceber que é aqui que queremos estar.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Regresso

Há mais de um mês que não escrevo por aqui. Muita coisa aconteceu, não mudou nada de grande. Foi só preciso, uma vez mais, parar, re-estruturar, re-organizar. No torbilhão de coisas que quero fazer e gosto de fazer é difícil passar por aqui mais vezes mas estou com saudades de escrever, de conversar com vocês, desta forma de diálogo estranho que são os blogues. 

Tenho um monte de coisas pendentes (há coisa que não mudam!) e prazos que estão por cumprir. Apetece-me contar-vos uma quantidade enorme de notícias e historietas aleatórias. 

Lá em casa há puxadores novos na cozinha, cortinados na sala, armários organizados. As aulas de inglês estão mais difíceis, os meus explicandos têm altos e baixos, o curso do T. está a roubar-nos muitos minutos, a Cookie está finalmente uma gata mais fofinha, gostava de ter um cão mas não tenho vida para isso. A loja da Marta já abriu e eu estou tão orgulhosa de acompanhar este projecto. Gostava de ter menos o sono e não precisar tanto de dormir, gosto de ver a vida a correr, mas gosto lido bem quando vejo amigos cheios de momentos baixos. O Natal está a chegar e eu tenho mil ideias, fiz uma bolo de cenoura, a minha sobrinha-emprestada está linda, tenho saudades dos meus emigrantes que se vão espalhando pelo mundo e estão sempre a partir. Gosto muito do meu trabalho e das minhas rotinas. Continuo com uma lista enorme de projectos para ir fazendo e isso é tão bom.

Não quero voltar a parar. Gosto disto. Promete que mostro novidades em breve. Por agora... ouçam músicas giras. Uma versão gira do Lisboa Menina e Moça em homenagem ao Carlos do Carmo. A Carminho fez um dueto com a Marisa Monte.  A Luísa Sobral lançou um disco para crianças (e depois de o juntar à minha lista "gosto tanto" com o dos Clã, o dos Cabeças do Ar e do da Adriana Partimpim comprovo mais uma vez a minha idade mental pequenina!)

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Barcelona - Praça de Espanha

Barcelona - Praça de Espanha
A viagem a Barcelona foi tão perfeitinha que até o tempo que apanhamos foi o certo: os dias não estavam excessivamente quentes e as noites convidavam a passeios. Juntando a ideia comprovada que esta é uma terra de gente tardia (muitos locais turisticos estão abertos ao público até às 20h/21h), os restaurantes estão abertos até tarde, e a ruas enchem-se de gente (ainda com a ajuda de termos aproveitado um fim de semana).

Numa das noites, fomos visitar a Praça de Espanha / Fonte Mágica / Museu de Arte da Catalunha. O T. não estava muito convencido quanto à potencial beleza de uma fonte mas acho que o conquistei com aquele espaço vivo, cheio de gente, o edificio do museu, o inicio do parque, as torres a fazer lembrar Veneza, e todas as maravilhs da cidade à noite.

Ora digam lá que não é maravilhoso:


 A Fonte Mágica é um espectáculo de luz e côr (mais informação aqui). Na verdade... tem também música, se decidirem juntar-se à multidão que a vê de perto. Dado que... nem a música é bestial nem há qualquer preocupação com sincronismo acho... muito mais bonito ao longe.


(sim, também me parece um pudim)

 O Museu de Arte da Catalunha está aberto até às 18h e, além da visita à colecção é possível aceder a um miradouro. Como eu já lá tinha estado (e não me lembro de adorar) e por uma questão de logistica e tempo. optamos por não entrar.


 
E se voltarmos as costas ao Palácio...

 
  Já descendo a escadaria que dá acesso à fonte e ao museu vemos as torres venezianas e, ao fundo, a praça de Espanha.
 

Há mais ideias sobre Barcelona, aqui e aqui.


segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Barcelona - Entre ruas e ruinhas

Barcelona - Entre ruas e ruinhas
Barcelona é uma cidade para andar a pé. Em todas as ruas há um detalhe novo: uma parede pintada, uma loja engraçada, um azulejo, uma casa de chocolates ou alguma coisa diferente que nem sequer esperávamos. Além disso a cidade é (quase) sempre muito plana e os passeios são largos, o que torna tudo ainda mais simples. 

É verdade que a rede de metro é muito boa, mas... lá em baixo a paisagem é também MUITO mais aborrecida. Por isso (e porque as pernas só começaram a doer já lá iamos no terceiro dia!) Andamos, sempre que possível, a pé. É possível comprar uma espécie de "passe de turista" para um determinado número de dias (3 dias custam 20€/pessoa). Em alternativa, um bilhete de 10 viagens (multi-pessoa) custa 10.30€. 

No total usamos 12 viagens de metro (6 cada um) e devemos ter feito uns bons 15km/dia a pé. Precisamos do metro para as viagens de ida e volta para o comboio, para Camp Nou, e para o Park Guel/Sagrada Família (esta exige uma boa caminhada). Nestes dias (e para aproveitar as viagens) planeamos bem as idas e voltas.

Hoje, o que vos quero mostrar é mesmo isto. Ruas, parques, a marina, detalhes, imagens que fomos apanhando. Muitos estão MESMO ali para todos vermos, outros só os vimos por acaso. TANTO ficou por descobrir. :)



Algures num jardim perto da Marinha estava um senhor a fazer bolas de sabão Gigaaannntes! 



 Parque da Ciudadela



Fizemos um dos nossos jantares no Palosanto. Além das tapas serem ótimas (a melhor tortilha de sempre!) o bar é muito, muito giro. Em todas as mesas há um bloco como este e umas peças de giz para que possamos expressar a nossa arte enquanto desenhamos! :)

Reparem na pintura da parede e na chaminé toda gira lá em cima.

 Graffiti em versão tributo. Ali no canto pode ler-se "Citat Tribut A Bella Joan Miró"


E os livros e os postais e todas as montras que queria fotografar?

 Esta Janela estava no edifício do El Corte Inglês. Provavelmente mantida do edifício original (?).

 Uma espécie de piriquito grande (ou papagaio pequenino) que vimos por toda a cidade.


Por recomendação da Sybille fomos provar churros e chocolate quente à rua Petritxol (é tão estreitinha que se não tivéssemos outros pontos de referência não iamos conseguir voltar a encontrar!). Entramos nesta pastelaria , e provei o melhor churros da minha vida. Secos, doces, pouco gordurosos. E o chocolate... Hummmmm! :)


 Humm... O "Moulin Rouge" ??? :)

Ronda Litoral. Ao fundo o Colombo e lá muito em baixo Montjuic.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Barcelona - O Bairro Gótico

Barcelona - O Bairro Gótico
Barcelona é uma das minha cidades preferidas. Está cheia de vida, de locais diferentes, tem mar e montanha, tem História e mistério, tem muita cor e muita sombra, está cheia de pessoas diferentes e lojas que apetece trazer, tem muita vida. É original, é especial. Sim, eu sei que consigo encaixar o Porto também nesta descrição. :)

Neste (e nos próximos posts) quero mostrar-vos bocadinhos da nossa viagem a Barcelona. Três dias cheios (e com muitos km nos pés), muitos "oh tão bonito" (muitos "oh, tantos turistas" também).

Fachada principal da Catedral de Barcelona, a mais recente, em estilo neogótico, projectada já nos finais do século XIX.

Em Praga fiz uma free walking tour e recomendo vivamente. Voltamos a procurar uma destas visitas (voltamos a fazer com a Sandmans) e parece ser uma aposta sempre ganha. Conhecer uma cidade com alguém que a adora e conhece bem, que se esforça para nos dar a melhor experiência possível (no final pagamos apenas o que queremos, ou achamos que a tour valeu) é uma excelente forma de a conhecer (oh nós aqui). Caminhamos cerca de 3 horas pelo Bairro Gótico. Eu... estive sempre meia perdida em todas aquelas ruinhas e ruelas (de todas as vezes que lá voltamos, naqueles 3 dias, fomos sempre por ruas diferentes, sempre de mapa em punho, sempre a descobrir sítios novos mas sempre... meios perdidos!. Ouvimos muitas histórias, muitos sítios cheios de turistas e outros tantos sem eles (mais um pró para estas tours). 

 Plaza del Rey (imagem Pinterest, não sei o que aconteceu com as minhas fotografias da praça)

Um dos primeiros pontos que vimos é a Praça do Rei. Entre vários edifícios históricos vemos o Palácio Real, sede de governo e morada oficial dos Reis de Aragão e dos condes de Barcelona. Reza a história que Cristóvão Colombo subiu aqueles degraus para apresentar a proposta da sua viagem aos Reis Católicos.


A Catedral de Barcelona começou a ser construída no século XIII sobre uma uma antiga catedral românica (parte da fachada faz parte até da antiga porta da cidade e é possível até ver parte de um aqueduto (reconstruido posteriormente). Ao longo do tempo a catedral foi sofrendo vários aumentos e transformações. A fachada gótica é a minha preferida (gosto de gárgulas!)




 O interior da catedral é, como expectável, lindo (e um bocadinho intimidante). O teto alto, os arcos e as 3 naves formam um obra impressionante (ainda mais agora que sempre que entro numa catedral Gótica lembro-me do Tom e do Jack). A entrada na Catedral é gratuita entre as 8h30 e as 12h00 e após as 17h15.

 Contou-nos a Sibylle que os desenhos desta fachada (e de outras duas do mesmo edifício) são de Picaso. Aparentemente Picaso não apreciava o trabalho de Miró (embora numa pesquisa rápida não tenha encontrado nada sobre o assunto) e defendia que qualquer um poderia ser um "Miró", pegou numa folha e lápis, e com uns desenhos simples "recriou" Miró. Não sei se esta história é ou não verdade mas... aproveitemos os desenhos porque são os únicos trabalhos de Picaso que podemos ver gratuitamente em Barcelona :)

Por falar em Picaso, senhor Pablo estudo na escola de Arte à esquerda. A rua entre a escola e o edifício ao lado é a famosa Carrer d'Avinyó.

 
A praça de S. Filip Neri foi um dos sítios que mais gostei de conhecer. Apesar da confusão da cidade, esta praça é calma e até silenciosa. Está especialmente bem escondida (só acessível através de duas ruelas estreitinhas) e só por sorte ou conhecimento damos com ela. Era a esta Igreja que Gaudi vinha diarimente quando se dedicou exclusivamente à construção da Sagrada Família (e foi a caminho daqui que morreu). Os buracos na fachada resultam de um bombardeamento durante a Guerra Civil Espanhola (onde morreram 42 pessoas, a maioria crianças - há uma escola junto à igreja). Segundo constante, Franco escondeu este facto e nos guias e livros de história de Barcelona até meados dos anos 70 referiam estes buracos como resultado de uma execução de padres pelos republicanos (reparem nos buracos muito acima das portas...).

Sant Jordi (São Jorge) o Padroeiro da Barcelona (e um dos padroeiros de Portugal) na fachada do Palau de la Generalitat.

Candeeiro na praça de Sant Jaume. Um dos muios candeiros bonitos de Barcelona. A praça a que nós inevitavelmente íamos ter quando vagueávamos pelo bairro (a sério, passamos lá mais de 10 vezes).



Santa Maria del Mar. Mais uma igreja gótica (apesar de termos visto umas 4 no Bairro Gótico só entramos nesta e na Catedral. A entrada é livre. Santa Maria del Mar foi construída no século XIV e, ao contrário da Catedral, sofreu poucas alterações com o passar do tempo. Adoro as construções em pedra, adoro o interior trabalhado e escuro (embora do ponto de vista prático, goste muito mais do conceito "igreja com luz"), mas a minha grande admiração vai para os vitrais.

É uma tradição Catalã a construção de torres ou castelos humanos (os Castells). Esta construção em arame, numa das praças do Bairro Gótico, é um monumento a esta tradição (as torres atuais chegam a ter 9 níveis!).

Ruela do Bairro Gótico. Reparem na Bandeira da independência catalã, naquela varanda. 

Sibylle, a nossa guia. Uma irlandesa há 10 anos em Barcelona que nos contou tudo o que conseguiu durante aquelas horas. Histórias da cidade, História da Catalunha (e como desde 1714 os catalães escolheram sempre o lado errado das batalhas), detalhes e muitas recomendações (nota-se muito que sou fã destas tours?). No final aprendemos 4 palavras em catalão: Bon dia (lê-se "bom dia") , adéu (lê-se "ádéu"), merci (lê-se "mérci") e si us plau (lê-se "sius plau"). Qualquer semelhança com o português e o francês é pura coincidência! :)

 

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