"O que é que ainda aí estás a fazer?"- perguntou-me o meu pai.
E o meu pai talvez me tenha perguntado isto porque, infelizmente, sabe muito pouco de mim. O "aí" dele referia-se a Portugal e a pergunta vinha no desenvolvimento de uma conversa acerca de carreiras promissoras no estrangeiro, o quanto ela acha que eu me estou a desperdiçar por "aqui" e o Mundo de oportunidades que conhece em todo o lado, nomeadamente, no país para onde ele próprio emigrou há uns bons anos. O meu pai diz-se um cidadão do Mundo: já viveu em Inglaterra, na Nova Zelândia, em Nova Iorque e, agora, mudou-se de armas e bagagens para São Paulo. E acha que este país não me merece, que eu tenho tanto, imenso potencial, que sou boa demais para aqui viver. "Estares aí é dar pérolas a porcos"- diz-me.
Não sou nómada, nasci para ficar.
E o meu pai talvez me tenha perguntado isto porque, infelizmente, sabe muito pouco de mim. O "aí" dele referia-se a Portugal e a pergunta vinha no desenvolvimento de uma conversa acerca de carreiras promissoras no estrangeiro, o quanto ela acha que eu me estou a desperdiçar por "aqui" e o Mundo de oportunidades que conhece em todo o lado, nomeadamente, no país para onde ele próprio emigrou há uns bons anos. O meu pai diz-se um cidadão do Mundo: já viveu em Inglaterra, na Nova Zelândia, em Nova Iorque e, agora, mudou-se de armas e bagagens para São Paulo. E acha que este país não me merece, que eu tenho tanto, imenso potencial, que sou boa demais para aqui viver. "Estares aí é dar pérolas a porcos"- diz-me.
Talvez peque por, aos olhos do meu pai, ser poucochinha e pouco exigente
no que peço da vida. Claro que se passasse necessidades, se a minha
qualidade mínima de vida estivesse comprometida, seria obrigada a
partir. O que o meu pai não percebe é que eu não procure uma vida
"melhor", desconhecendo ele que não aspiro a nada que me pudesse fazer
tão mais feliz que compensasse a minha mudança de altitude e latitude.
"Não preciso de ter acesso a mais nada: sou eu que vivo no sítio para o qual tu poupas para vir passar férias. Tu desejas um travesseiro da Piriquita o ano todo, eu não salivo de cada vez que penso em algo que comi numa qualquer viagem que tenha feito. Posso ter memórias boas delas mas não salivo por um cupcake do Magnólia, onde está a minha amiga Eileen, nem sinto saudades que me façam o coração apertado por voltar a Vianden, perto do sítio onde mora a minha amiga Xana. Porque eu não tenho o coração biforcado entre o sítio onde pertenço e o sítio que escolhi. Porque eu escolho permanecer aqui, no sítio onde pertenço."- remato.
"O que é que ainda cá estou a fazer, pai?" Estou a ser feliz com o muito que tu achas pouco."Não preciso de ter acesso a mais nada: sou eu que vivo no sítio para o qual tu poupas para vir passar férias. Tu desejas um travesseiro da Piriquita o ano todo, eu não salivo de cada vez que penso em algo que comi numa qualquer viagem que tenha feito. Posso ter memórias boas delas mas não salivo por um cupcake do Magnólia, onde está a minha amiga Eileen, nem sinto saudades que me façam o coração apertado por voltar a Vianden, perto do sítio onde mora a minha amiga Xana. Porque eu não tenho o coração biforcado entre o sítio onde pertenço e o sítio que escolhi. Porque eu escolho permanecer aqui, no sítio onde pertenço."- remato.
Não sou nómada, nasci para ficar.
Polo Norte, no sempre bom Quadripolaridades
Falamos muitas vezes deste assunto. Seria tão fácil emigrar, seria tão simples ganhar muito bem. Chegamos sempre à conclusão que perderiamos mais do que ganhavamos.
Adorava ter trabalhado num outro país. Por apostar mal, por me deixar ficar ou porque não quis na altura, não aconteceu. Gostava de ter ido um ano. Talvez dois. Por formação e experiência e depois... voltar a casa. Não aconteceu e não acredito que venha a acontecer. Foram as cartas que decidi jogar.
Sinto-me uma felizarda por isto ser uma opção. Claro que podia ter uma casa maior, podia ter um carro melhor, podia ter uma conta com mais números. Mas isso são coisas, pequeninas. Tenho uma casa, tenho um emprego, gosto de gestão de orçamento. Se fosse não teria muito mais. Perdia o mar ao fundo da rua todos os dias, o amor da família aqui ao lado, mesmo ao lado. Não seria a nossa casa a que tem as portas abertas para todos os amigos, a que pode sempre receber cheia de mimo os que vivem por essa Europa, aquela em que cabe sempre mais um, muito dos quais que cresceram comigo ou me viram crescer. Não saberia onde comprar o melhor pão tigre a meio da noite, não teria peixe do "nosso mar" e o vinho do Porto passaria a ser um luxo. Não ouviria os golos da selecção a serem gritados no café em frente, não me perderia a olhar para o por-do-sol cheio de côr nem poderia ir durante a semana jogar cartas para o café, com os amigos "como antigamente". Não sentiria os cheiros de Santa Catarina, não me arrepiaria com as luzes nos Aliados e ninguém me trataria por menina.
Não teria todos os dias, todas as horas, a sensação e certeza que estou em casa.
Não interessa quantas vezes voltamos a pensar neste hipoteses. Precisamos sempre de apenas uns segundos para perceber que é aqui que queremos estar.