quarta-feira, 5 de julho de 2017

A escola que temos

Por fim, há um problema que atravessa todas as disciplinas e que se prende com os métodos de ensino. Já li bastantes artigos sobre isto, não estou a inventar a pólvora, mas a verdade é que estamos a ensinar os miúdos em 2017 com métodos do século XIX. E se no nosso tempo a coisa já era uma seca, imagine-se agora, com putos que cresceram com mil canais de televisão e internet nos computadores e vivem com um telefone permanentemente nas mãos. É muito mais difícil captar a sua atenção e motivá-los. Por outro lado, sinto muitas vezes que não estamos a preparar estes miúdos para o futuro. Fazêmo-los decorar coisas e mais coisas mas não os ensinamos a ver o mundo. Estamos a dar-lhes uma série de conhecimentos obsoletos e banais, a fazê-los decorar coisas de que, na realidade, eles não vão precisar nunca mais (assim como assim está tudo no google), em vez de lhes darmos verdadeiras competências para o mundo real.
(...)
Finalmente, e esse é o último elemento que entra nesta equação: para que é que isto tudo serve? Quando era miúda, ouvi muitas vezes o discurso do tens de estudar para ser alguém. Ou, pelo menos, para ser aquilo que eu sonhava ser. Acreditava-se que os estudos abriam portas, portas que estavam vedadas a quem não trabalhasse o suficiente na escola e que nos iriam conduzir a uma vida melhor. Hoje em dia, apesar de eu ainda acreditar que estudar abre mesmo muitas portas - na cabeça e nas vidas das pessoas - é muito mais difícil conseguir convencer os miúdos disto. Todos os dias eles têm exemplos de pessoas que não estudaram nada e conseguiram ter sucesso (na televisão, na internet, no desporto...) , e também vão encontrando pessoas que estudaram mesmo muito e com resultados excelentes e não conseguiram fazer grande coisa da sua vida. Assim fica mais difícil a tarefa de uma mãe.

Ando a digerir este texto da Gata há alguns dias. O tema "educação" é mais um dos que me tornei sensível depois do Duarte. E por longe que ainda estejam estes tempos para "o meu", tenho sempre uma grande angústia ao pensar no que estamos a fazer às nossas crianças. 

Olho para o ensino e parece-me estar tudo errado. Da-mos péssimas condições de trabalho aos professores, enfiamos 30 crianças numa sala e trocamos os professores anualmente (como se espera que conheçam os miúdos assim?). Acrescento ainda que, pelo que me parece, temos cada vez mais professores que escolhem a profissão porque "é o que sobra". Sem qualquer gosto ou vocação. E esta maravilhosa ideia dos centros escolares. Pré-primária e primária juntas, centenas de crianças pequeninas na mesma escola. Adeus conceito "familiar". 

Conheço dois casos muito próximos em que vejo as injustiças do modelo de ensino. Um miúdo com uma boa cultura geral, inteligente e interessado mas com graves problemas de auto-confiança acaba o ano com uma catrefada de 3 na pauta e até uma negativa. O outro, um grande vendedor de banha da cobra, mentiroso, cheio de atalhos, consegue decorar muito mas não compreende nada, sabe vender-se lindamente. Resultou em muitos 4. "Exemplar". Não consigo explicar a agonia que isto me provoca. É claro que acredito que a longo prazo seja o primeiro miúdo que vá ter mais sucesso. Preciso de acreditar nisso mas... parece tudo muito trocado.

Gostei tanto de andar na escola, gostava tanto de saber transmitir este gosto para o Duarte. Gostava que ele percebesse que a matemática não é difícil, os números encaixam todos, dançam tão bem. Queria que ele compreendesse que a História é importante e que saber os porquês da Ciência não são uma seca sem sentido.  Não sei como se passa tudo isto e tenho mesmo medo de falhar. Resta-me não me esquecer de tentar sempre. .

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