Numa altura em que me vejo cada vez mais rodeada por "famílias nucleares", longe de tudo e de todos, penso e repenso a sorte que tenho. Nasci numa família grande. Lá em casa éramos 4 mas ainda hoje tenho que pensar para saber quantos primos tenho ao todo (e não é porque só fale com eles no Natal). Tenho mesmo muitas memórias de mesas cheias e barulhos bons. É provável que os meus filhos não percam a conta aos primos, mas eles têm os avós e os tios por perto e, ainda melhor, têm o privilégio de ter uma "aldeia" a olhar por eles.
Eu gosto do conceito de bairro, com todas as coisas que isso tem de bom. Gosto de conhecer a vizinha do lado, gosto de receber os pimentos que lhe sobram da colheita, gosto que os meus filhos sejam crianças "do lugar", gosto de me esquecer de qualquer coisa no café e a senhora saber que é meu. Gosto de ir à aldeia onde os meus pais cresceram e que até a senhora que está a pastar ovelhas (e que eu achava que não me conhecia) pergunta pela minha sobrinha. E outra que não deixa "o senhor dos doces" ir embora, porque sabia que eu estava por lá e queria saber se eu queria comprar doces "porque eu gosto". Gosto tanto desta familiaridade que não ligo muito aos pequenos problemas (como o excesso de "zelo" pela vida alheia ou o excesso de doces que o meu filho acaba por receber). Gosto que o meu filho saiba que tem "um quarto" na casa dos avós, dos tios e que comece a perceber que todos nós fazemos parte da educação dele - e que há regras diferentes nas várias casas. Gosto de todo o caos e toda a partilha dos almoços grandes. Gosto de sentir que vou acompanhar o crescimento dos meus sobrinhos bem de perto, que vou ter espaço deles na minha casa, e quero acreditar que eles vão perguntar por nós da mesma forma e na mesma frequência que o Duarte pergunta pelos tios.
Depois há toda a sanidade dos momento sem filhos. Ter onde os deixar se quiser ter um bocadinho só para mim ou para nós. Deixar a porta aberta para ficarmos com os filhos "dos nossos". Ter lugares onde eles querem sempre ficar. Deixar que só entrem na escola aos 3 anos (e não, não concordo que seja minimamente importante para o crescimento deles ir mais cedo). E tanto mais.
É um privilégio. O privilégio que é crescer com os avós por perto. O privilégio que é quase não ter mesa suficiente para tanta gente. O privilégio que é poder fazer como me parece fazer mais sentido. O privilégio de nunca estar sozinho.
Sem comentários:
Enviar um comentário